terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Jerusalém


É um livro sobre os limites da loucura e da razão. Livro também sobre a crença. O livro começa com Mylia a tentar entrar numa igreja às quatro da manhã. Mylia, uma mulher forte, tem uma doença mental e acaba internada num hospício. Theodor Busbeck, seu ex-marido desenvolve um estudo sobre o mal e o horror ao longo da História. Há depois uma personagem terrível, assustadora, Hinnerk, um ex-combatente. Mylia engravida no hospício e tem um filho de um outro internado. As personagens cruzam-se, conduzidos por um destino que não dominam, na noite em que tudo começa e tudo termina.Romance que pertence ao Reino (conjunto de romances cujo tema central é o mal). Estes também são conhecidos como os livros pretos.

«Como as substâncias se separavam logo à partida, entre as que avançavam com a vontade própria e as que esperavam com a obediência estática (e nisso dividiam-se como alguns homens). Os sapatos eram a obediência pura, a escravidão mesquinha, enojavam-lhe naquele momento; a sabujice destes materiais em relação ao homem. Nenhum cão é tão sabujo como estas substâncias. Não há possibilidade de diálogo entre substâncias que nascem logo em campos opostos, em campos, não inimigos, que isso seria pensar na possibilidade de elevação do homem que agarra na arma para combater; ali, pelo contrário, o afastamento não era entre substâncias inimigas ou entre dois predadores que se preparam para combater por um pequeno território; tratava-se simplesmente de passividade absoluta de um lado, e do outro energia forte, que constrói ou destrói, mas que modifica sempre. Não somos uma coisa que espera, murmura Mylia, enquanto avança a passos fortes para a igreja.»

Excerto de "Jerusalém", romance, Círculo de Leitores, 2004; Caminho, 2005.
Prémio Ler-Millenium-BCP
Prémio José Saramago 2005
Prémio Portugal Telecom de Literatura 2007 (Brasil)